terça-feira, 16 de agosto de 2011

6ª Parábola de Mumiah

Jesus era peripatético

Numa das empresa em que trabalhei, eu fazia parte de um grupo de treinadores voluntários.

Éramos coordenados pelo chefe de treinamento, o professor Lima, e tínhamos até um lema:


"Para poder ensinar, antes é preciso aprender" (Copiado, se bem me recordo, de uma literatura do Senai)

Um dia, nos reunimos para discutir a melhor forma de ministrar um curso para cerca de 200 funcionários.

Estava claro que o método convencional (botar todo mundo numa sala) não iria funcionar, já que o professor insistia na necessidade da interação, impraticável com um público daquele tamanho.

Como sempre acontece nessas reuniões, a imaginação voou longe do objetivo, até que, lá pelas tantas, uma colega propôs usarmos um trecho do Sermão da Montanha como tema do evento.


E o professor, que até ali estava meio quieto, respondeu de primeira. Aliás, pensou alto:

Jesus era peripatético...

Seguiu-se uma constrangida troca de olhares, mas, antes que o hiato pudesse ser quebrado por alguém com coragem para retrucar a afronta, dona Dirce, a secretária, interrompeu a reunião para dizer que o gerente de RH precisava falar urgentemente com o professor.

E lá se foi ele, deixando a sala à vontade para conspirar.


Não sei vocês, mas eu achei esse comentário de extremo maus gosto - disse a Laura


Eu nem diria de mau gosto, Laura. Eu diria ofensivo mesmo - emendou o Jorge para acrescentar que estava chocado, no que foi amparado por um silêncio geral.


Talvez o professor não queria misturar religião com treinamento - ponderou o Sales que era o mais ponderado de todo. Mas eu até vejo uma razão para isso...

Que é isso Sales? Que razão?

Bom para mim, é óbvio que ele é ateu.

Não diga!

Digo. Quer dizer, é um direito dele. Mas daí a desrespeitar a religiosidade alheia...

Cheios de fúria, malhamos o professor durante uns dez minutos, e, quando já o estávamos sentenciando à fogueira, ele retornou. Mas nem percebeu a hostilidade. Já entrou falando:

Então, como ia dizendo, podíamos montar várias salas separadas e colocar umas 20 pessoas em cada uma. É verdade que cada treinador teria de repetir a mesma apresentação várias vezes, mas... Por que vocês estão me olhando desse jeito?

Bom, falando em nome do grupo, professor, essa coisa ai de peripatético, veja bem...

Certo! Foi daí que me veio a ideia. Jesus se locomovia para fazer pregações, como os filósofos também faziam ao orientar seus discípulos. Mas jesus foi o Mestre dos Mestres, portanto a sugestão de usar o Sermão da Montanha foi muito feliz. Teríamos uma bela mensagem moral e o deslocamento físico... Mas que cara é essa? Peripatético quer dizer "o que ensina caminhando"

E nós ali, encolhidos de vergonha.


Bastaria um de nós ter tido a humildade de confessar que desconhecia a palavra que o resto concordaria e tudo se resolveria com uma simples ida ao dicionário.

Isto é para poder ensinar, antes era preciso aprender.


Finalmente, aprendemos duas coisas:

A primeira - O fato de todos estarem de acordo não transforma o falso em verdadeiro.

A segunda - Que a sabedoria tende a provocar discórdia, mas a ignorância é quase sempre unânime.



Artigo escrito por Max Gehringer publicados na Revista Você SA.







Fraterno abraço a todos

Mumiah

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